Contenção: Contenção de derramamento de óleo em cenário offshore
Texto: Dante Pozzi Neto, Roberto Giannini, Osvaldo Henrique Nogueira Junior
Fotos divulgação/Alpina Briggs
O petróleo é um dos principais protagonistas no desenvolvimento dos países e dos confortos da vida contemporânea. Esse protagonismo lhe confere o papel de herói e vilão, pois se por um lado proporciona melhorias indiscutíveis à qualidade de vida do homem moderno, por outro também representa grandes riscos à qualidade ambiental, com potencial para causar relevantes impactos à natureza.
O ciclo do petróleo, desde a extração até seu consumo, abrange inúmeros processos complexos, cujos riscos de acidentes inerentes à atividade, em particular no transporte e armazenamento, os quais envolvem massivas quantidades do produto, ainda que gerenciáveis, podem resultar em derramamento de óleo.
Ainda que derramamentos de óleo possam ocorrer tanto em ambientes terrestres como marinhos, aqueles em ambiente marinho são os de maior repercussão, mobilizam a opinião pública, mídia e autoridades, com razão, pois podem causar graves impactos e danos ambientais, decorrentes não apenas do volume derramado (um litro de óleo pode recobrir mais de 25.000 m2 de superfície de água), mas também das propriedades físico-químicas do produto e características ambientais do local da ocorrência.
Devido à gravidade desses incidentes, organismos internacionais, governos e indústria há algumas décadas se preocupam com as consequências dos derramamentos de óleo e estabelecem marcos legais, novas tecnologias e procedimentos, visando reduzir os riscos de vazamentos e mitigar suas consequências. Os resultados, ainda que promissores, não são tranquilizantes. Se por um lado dados do ITOPF (International Tanker Owners Pollution Federation) revelam que a média de grandes derramamentos (maiores que 700 toneladas derramadas) causados por navios-tanque e barcaças caiu de 24,5/ano na década de 70 para 3,3 derramamentos por ano na década de 2000 e para 2,5/ano no período 2010-2011, o que corrobora informações da IMO (International Maritime Organization), segundo a qual, embora o volume de óleo transportado por mar tenha dobrado na última década e os eventos de derramamento de óleo diminuído a menos da metade no mesmo período, grandes derramamentos ainda ocorrem.
O naufrágio do navio Prestige, em 2002, derramou cerca de 63 mil toneladas de óleo, contaminando milhares de quilômetros do litoral de Espanha, França e Portugal. Em dezembro de 2007, o navio tanque Hebei Spirit derramou cerca de 10.800 toneladas de óleo nas proximidades do porto de Daesan (Coréia do Sul), afetando 33 praias e uma das áreas ecossistêmicas mais importantes da Ásia, com intenso uso para maricultura e turismo. No auge da operação de resposta, mais de 1 milhão de pessoas estavam envolvidas na operação de limpeza. A explosão da plataforma Deepwater Horizon no Golfo do México, em 2010, causou um derramamento contínuo por 87 dias, lançando ao ambiente mais de 900 mil toneladas de óleo. A limpeza de costa perdura até os dias atuais.
O fato é que a operação de resposta a um derramamento de óleo é bastante complexa, exige muita organização, equipamentos e pessoal especializados, por vezes não disponíveis nas quantidades necessárias, variada gama de prestadores de serviço, estruturas de apoio, grande esforço logístico, respeitáveis aportes financeiros, além de envolver diferentes áreas do poder público e da sociedade, submetendo os responsáveis pelo empreendimento causador do incidente a pressões de toda ordem. Não há outra maneira de se preparar para um incidente dessa natureza, que pode ser catastrófico, senão com muita organização e treinamento.
O Brasil dispõe de legislação específica sobre poluição por vazamento de óleo e outras substâncias perigosas, sendo a Resolução Conama 398, de junho de 2008, a mais expressiva delas, pois determina de forma objetiva aos empreendedores os requisitos mínimos necessários ao estabelecimento de um Plano de Emergência Individual (PEI) efetivo frente às necessidades de preparação e resposta aos incidentes de poluição por óleo. Longe de ser um capricho legislativo, o plano de emergência ou contingência é uma ferramenta das mais úteis na administração da crise que se instala no momento seguinte à ocorrência e propicia a adequada e eficiente organização da operação de resposta ao incidente.
Organização – O primeiro passo é estabelecer uma estrutura de gerenciamento de incidentes. Os diferentes modelos existentes têm em sua essência a mesma organização e objetivam estabelecer de forma bem definida a estrutura de comando, as regras e as responsabilidades, com adequada abrangência dos controles necessários. Tanto o modelo de estrutura proposto pela IMO (IMS – Incident Management System) como o modelo desenvolvido pelos Estados Unidos (ICS – Incident Command System), dos mais adotados ao redor do mundo, não apresentam grandes diferenças e propõem a organização baseada em um núcleo de comando unificado, que reúne os atores com prerrogativas de tomadores de decisão, ao qual estão subordinados quatro grandes núcleos de trabalho: planejamento, operações, logística e finanças.
A partir da estrutura principal, cada um dos núcleos conta com diversas subdivisões de forma a atender as diferentes necessidades que se impõem ao gerenciamento da emergência. É importante que a organização tenha caráter modular e expansível, uma vez que deve atender tanto às necessidades de um pequeno incidente quanto às de um evento de grande magnitude. Dessa forma, cada um dos núcleos e subnúcleos são acionados conforme a complexidade do evento. Outro ponto a se observar diz respeito ao treinamento do pessoal. As pessoas devem ser preparadas para executar diferentes funções na estrutura, observadas suas habilidades específicas. Como exemplo da complexidade que pode alcançar uma emergência, a figura abaixo apresenta a organização normalmente requerida para o gerenciamento de um derramamento de grande porte.
Contenção do óleo – Quando ocorre um vazamento de óleo, procedimentos eficientes de contenção e proteção são vitais para assegurar a minimização dos impactos, evitando, tanto quanto possível, que recursos biológicos e socioeconômicos, bem como ecossistemas contíguos ao local do acidente, sejam atingidos.
Diante de um vazamento de óleo, concomitante ou não com as ações para a comunicação do incidente, interrupção da continuidade desse vazamento e monitoramento da situação, deve-se imediatamente adotar os procedimentos para a contenção física da mancha de óleo, tanto nas proximidades da fonte de vazamento, quanto ao longo da sua estimada trajetória, visando a redução da área de espalhamento e a proteção de áreas vulneráveis.
Para tanto, em função da tipologia acidental, do produto vazado e das características ambientais no local do acidente, dispositivos de diferentes materiais e dimensões devem ser dispostos para contenção do óleo.
Em rios, é comum que esses dispositivos de barramento tenham a forma de comportas e diques improvisados localmente com material disponível (pedras, terra, capim, palha, etc.) ou construídos (madeira ou alvenaria), mas os equipamentos comumente utilizados são as Barreiras Absorventes e as Barreiras de Contenção.

Barreiras Absorventes – São constituídas por material absorvente sintético (polímeros, espuma de poliuretano, fibras de polietileno e polipropileno, copolímeros especiais e fibra de náilon, entre outros), encapsulado linearmente, em lances de metragem variada, que podem ser conectados entre si e com as barreiras de contenção.
Atualmente há no mercado novos materiais, inclusive biodegradáveis, com alta capacidade de absorção de óleo e pouca de água. Devido à propriedade oleofílica, depois de saturados com o óleo, passam por processo de extração e podem ser reutilizados no acidente várias vezes, observada a integridade do produto.

São muito úteis na limpeza de áreas abrigadas e pequenas manchas, geralmente no solo, poças de óleo, bueiros, ralos, entradas e saídas de galerias pluviais, canaletas, valas, canais, riachos, corpos d’água rasos, lagoas, baías, enseadas, estuários, ou seja, em ambientes de baixas dimensões, vazão, profundidade e energia e/ou de difícil acesso. Pode-se ainda conjugar as barreiras absorventes com as barreiras de contenção, assegurando o confinamento e a absorção das manchas de óleo, principalmente aquelas de menor espessura, durante os estágios finais de limpeza.
Ainda que as barreiras absorventes sejam atualmente constituídas de material biodegradável, após a reutilização possível no acidente, devem descartadas adequadamente.
Barreiras de Contenção – As barreiras tradicionais de contenção, fabricadas de borracha de neoprene, náilon ou poliéster revestido com policloreto de vinila ou poliuretano, são usadas para:
Contenção e Concentração: A barreira é disposta em uma configuração particular, geralmente com auxílio de uma ou mais embarcações, para que possa conter e concentrar o óleo a ser recolhido. Alguns modelos possuem recolhedores acoplados.
Desvio/Deflexão de Manchas: Normalmente executada em rios e linhas de praia, fazendo com que as manchas sejam conduzidas a um local mais adequado para a contenção e posterior recolhimento.
Proteção: Barreiras de contenção, conjugadas ou não com barreiras absorventes, são posicionadas, ancoradas ou arrastadas para desviar a mancha de óleo de áreas de importância ambiental, social e econômica, cuja contaminação por óleo deve ser evitada e que são prioritárias na proteção, como por exemplo, pontos de captação de água para abastecimento público, industrial, de usinas de energia e tanques de aquicultura, marinas, portos, áreas de concentração/criação de animais silvestres, como estuários e manguezais.
Prevenção: Barreiras de contenção são instaladas preventivamente ao redor de embarcações, plataformas, quando das atividades de carga/descarga, manutenção, em ambientes portuários.
Atualmente há uma grande variedade de modelos, formas, tamanhos, materiais e acessórios, como por exemplo, barreiras resistentes à queima do óleo, que podem ser rebocadas a velocidades até 5 nós, com separadores água-óleo, recolhedores ou aplicadores de dispersantes acoplados, instaladas em ambos os bordos de uma embarcação, etc., permitindo o uso em diversas situações. Os tipos mais comuns são:
Barreiras Tipo Cerca: Constituídas por material rígido de polietileno ou semirrígido de poliuretano ou policloreto de vinila, são muito utilizadas em águas calmas, para proteção de cenários emergenciais previsíveis, como tomadas d’água, instalações industriais, canais de descarte de estações de tratamento de efluentes, terminais petrolíferos, canais de acesso em adutoras, usinas hidrelétricas, refinarias e áreas portuárias. Podem ser permanentes, ancoradas ou amarradas a flutuadores, com conectores fixo-flutuantes, adequando-se às variações de marés ou aos níveis sazonais dos rios. Têm a vantagem de possuir resistência à abrasão, corrosão e incrustação, serem de fácil manuseio, manutenção, limpeza e armazenamento, além de alta eficiência.
Barreiras Tipo Cortina: Geralmente manufaturadas em tecido resistente e revestido com poliuretano, poliéster, policloreto de vinila ou neoprene, flutuador sólido (câmaras de poliuretano, poliestireno, cortiça) ou inflável (câmaras infladas com ar) e saia flexível mantida por lastro de correntes ou cabos na sua extremidade inferior. Têm grande resistência à tração, boa maleabilidade para reboque e instalação e alta eficiência em mar mais agitado. Com diversas possibilidades de altura da borda livre, diâmetro dos flutuadores, altura da saia e comprimento dos lances, podem ser empregadas em várias situações e ambientes, como barreiras de contenção, deflexão ou proteção em águas interiores, rios rápidos e águas costeiras.
Barreiras de Assentamento: Geralmente manufaturadas em tecido resistente e revestido com poliuretano, ou policloreto de vinila, utilizadas na interface água-terra, nas margens das praias, estuários, manguezais, áreas alagadas. Possuem uma câmara de flutuação superior inflável e duas câmaras inferiores com água, que funcionam como lastro, dando assim estabilidade à barreira e eficiente selagem junto ao sedimento, evitando a passagem de óleo por baixo.
Barreira com Braços: Barreira de pequeno comprimento acoplada a sistema de braços articulados e recolhedor, podendo ser usada com uma velocidade de reboque até 3 nós. O braço é articulado no través da embarcação para o reboque da barreira de contenção, podendo uma única embarcação operar dois sistemas de barreiras simultaneamente, sem necessitar do apoio de uma segunda embarcação, oferecendo como vantagens uma resposta mais rápida e maior facilidade de manobras.
Barreiras Oceânicas: Geralmente manufaturadas em tecido resistente e revestido com poliuretano, poliéster, policloreto de vinila ou neoprene, resistente à radiação UV, são barreiras grandes, robustas e que necessitam de uma unidade de força para o lançamento e o recolhimento, de sopradores de ar para o preenchimento e maior habilidade do usuário. O limite para operação segura e eficiente das barreiras é até mar 3 ou 4 (escala Beaufort). Geralmente comercializadas entre 200-300 m de lance contínuo, em carretéis elétricos, em contêineres. Há modelos com sessões independentes, onde cada câmara é inflada separadamente ou modelos com um único ponto de enchimento.
Barreiras para Queima de Óleo: Utilizadas para conterem manchas com risco de incêndio ou para concentrar manchas para sua posterior ignição intencional. Os modelos atuais são construídos com uma manta de cobertura refrigerada por água através de uma bomba auxiliar, podendo ser utilizada várias vezes, pois é resistente a altas temperaturas. Pode deslocar a mancha incendiária para locais mais adequados, protegendo áreas sensíveis a altas temperaturas como navios-tanque, barcaças de combustíveis, plataformas de perfuração, exploração e produção, postos de serviços flutuantes e demais instalações marítimas e portuárias. No Brasil ainda não existe uma legislação específica para queima do óleo in situ.
Técnicas de Contenção – As pessoas responsáveis por selecionar e fazer uso das barreiras devem conhecer as suas aplicações, conhecer exatamente cada tipo de barreira, sua durabilidade, formas de armazenamento, transporte e capacidade de contenção, onde mais elas se adequam, planejar criteriosamente a escolha e colocação, selecionando-se os melhores locais para sua disposição, além de possuir também conhecimento sobre as condições de mar, de tempo e marinharia, como o uso de âncoras, boias de arinque, flutuadores e demais acessórios. As técnicas mais usuais são:
Cerco: Pode ser Total, em embarcações e plataformas fundeadas, ou Parcial, em embarcações em áreas portuárias ou em atracadouros. Pode-se fixar as barreiras ao casco do navio ou às estruturas do atracadouro.
Contenção em “V” (duas embarcações ou âncoras seguram as extremidades da barreira, direcionando o óleo contido para seu vértice, onde há um recolhedor acoplado ou uma embarcação recolhedora); em “J” (geralmente usada em mar aberto, com duas embarcações, sendo que uma delas segura uma das extremidades da barreira também recolhe e armazena o óleo); ou em “U” (configuração geralmente usada em águas costeiras, com três embarcações, sendo duas segurando as extremidades da barreira e uma terceira recolhendo o óleo). Em locais com velocidade de corrente propícia, pode-se substituir a embarcação de uma das extremidades da barreira por dispositivo de lançamento.
Contenção Dinâmica: É usada apenas uma embarcação. Sistema de barreira acoplada em um ou em ambos os bordos de uma embarcação, o que permite o recolhimento dinâmico, ou seja, a embarcação pode se movimentar enquanto recolhe o óleo.
Falhas das Barreiras – As barreiras podem apresentar falhas devido às condições de mar locais e/ou problemas operacionais, como:
Arraste: a velocidade relativa entre a água e a barreira é muito alta, com dispersão do óleo por baixo da barreira.
Drenagem: a quantidade de óleo contido na barreira ultrapassa a capacidade máxima para qual a barreira foi dimensionada.
Sobrepassagem: o óleo passa por cima da barreira, devido ao comprimento e altura das ondas.
Surf: vento e correntes fortes e com direção oposta ou uso incorreto de acessórios acarretando o tombamento da barreira.
Ancoragem: falha operacional durante a instalação, com o comprimento do cabo de ancoragem incorretamente dimensionado em relação à profundidade, principalmente em locais com alta variação de maré, ocorrendo submersão de parte da barreira.
No Brasil, a quantidade de barreiras absorventes e de contenção/proteção necessárias para que um empreendimento seja licenciado está normatizada, sendo:
Resolução Conama № 398/2008: As barreiras de contenção deverão ser dimensionadas em função dos cenários acidentais previstos e das estratégias de resposta estabelecidas, contemplando as frentes de trabalho junto à fonte, na limitação do espalhamento da mancha e na proteção de áreas vulneráveis prioritárias, obedecidos os seguintes critérios:
Resolução Conama № 398/2008: Os absorventes utilizados para limpeza final da área do derramamento, para os locais inacessíveis aos recolhedores e, em alguns casos, para proteção de litorais vulneráveis em sua extensão ou outras áreas especiais, deverão ser quantificados obedecendo-se o seguinte critério:
a) barreiras absorventes: o mesmo comprimento das barreiras utilizadas para a contenção.
Nota Técnica Nº 03/2013 – CGPEG/DILIC/Ibama: Como diretrizes para aprovação dos Planos de Emergência Individual – PEI, nos processos de licenciamento ambiental dos empreendimentos marítimos de exploração e produção de petróleo e gás natural, o empreendedor deverá considerar o mínimo de 200 metros de comprimento de barreiras de contenção, por recolhedor. Em cada embarcação que contar com barreira de contenção, deverão ser alojados, minimamente, 2 carretéis de 200 metros. As embarcações deverão contar com barreiras absorventes de forma a auxiliar as operações de recolhimento.

Recolhimento do óleo – A considerar a organização da estrutura de resposta a um incidente tecnológico que envolva o lançamento acidental de óleo no mar, após a contenção do produto derramado, resta a execução de uma das principais etapas da resposta, que é a aplicação de técnicas e recursos voltados à coleta, armazenamento e destinação final dos resíduos a serem coletados.
Para a execução de todo o processo de retirada do óleo da água, é necessária a definição e escolha de equipamentos e procedimentos específicos, com a finalidade de se obter o melhor rendimento possível na operação. Os pontos que mais influenciam na definição desses recursos são o conhecimento do tipo do óleo derramado, a quantidade derramada, o tempo de residência do óleo no mar e os ambientes a serem impactados, fatores que ajudam a definir a severidade do incidente.

Os equipamentos destinados a fazer a remoção do óleo confinado nas barreiras de contenção são comumente chamados de recolhedores ou skimmers. A palavra inglesa é utilizada para definir os aparelhos desenvolvidos para efetuar a remoção mecânica de petróleo ou derivados, derramados em diversos ambientes, como superfície do mar, rios e até mesmo em áreas terrestres, com auxílio de um dispositivo captador e um sistema de bombeio que faz a transferência do produto para o local de armazenamento.
Assim, para a recuperação do óleo derramado, faz-se necessário inicialmente confiná-lo com o auxílio das barreiras de contenção, para posteriormente ocorrer a aproximação dos equipamentos para a sua remoção. Desta forma, fica claro que os principais componentes de um skimmer são formados pelo binômio bomba de transferência e dispositivo recolhedor.
A seleção de um skimmer passa pela análise de vários fatores. Os mais importantes são a viscosidade e densidade do óleo, considerando que tais propriedades químicas variam consideravelmente quando sob ação direta dos processos de intemperismo e de emulsificação, que se iniciam imediatamente a partir do instante em que o óleo é derramado sobre a superfície do mar. Outros fatores não relacionados às características do produto derramado também determinantes para a eficiência das operações de recolhimento são o estado de mar e a presença de resíduos.

Uma vez identificado o tipo e condição do óleo a ser recolhido, o próximo passo é definir as condições operacionais em que se dará o processo de recolhimento, se engajado em uma estrutura de resposta formada por embarcações dedicadas, já equipadas com sistemas de recolhimento a bordo, se o equipamento integrará embarcações de apoio acoplados com sistemas híbridos de contenção e recolhimento ou se o recurso será lançado manualmente ou de forma assistida, no interior do sistema de contenção para iniciar a captura do óleo.
De forma geral, os recolhedores são classificados de acordo com a sua maneira operacional de retirar o óleo derramado e podem ser classificados como oleofílicos e não oleofílicos, ou seja, os conjuntos oleofílicos funcionam pela adesão do óleo à uma superfície recolhedora e os conjuntos não oleofílicos ou vertedouros se servem da força de gravidade para recolher o produto derramado.
Os skimmers oleofílicos são construídos com materiais que apresentam uma afinidade maior com o óleo do que com a água e, com isso, os hidrocarbonetos se aderem à superfície do equipamento, que comumente é manufaturado na forma de tambores, discos, cordas, escovas ou cerdas oleofílicas, que à medida que giram, captam o óleo da superfície aquosa para posteriormente serem raspados e conduzidos por bombeamento até o ponto de armazenamento. Veja figuras de alguns tipos de recolhedores oleofílicos comumente encontrados no mercado.
Atualmente os recolhedores oleofílicos tem ampla aplicação, pois captam muito bem óleos leves a médios, com boa relação de remoção óleo-água. No entanto, óleos muitos leves que apresentam dificuldade em formar filmes mais espessos, como gasolina e querosene, ou na presença de emulsões aquosas de baixa aderência, podem ser de difícil recolhimento por esses sistemas.
Já os recolhedores não oleofílicos possuem uma gama maior de variações, pois podem ser do tipo vertedouro, mecânico ou de sucção. Sistemas vertedouros utilizam a gravidade e a densidade do óleo para fazer a coleta do produto derramado. Através de um sistema regulável conectado a uma bomba de transferência, o óleo é drenado seletivamente a partir da superfície da água e conduzido para o local de armazenamento. Sistemas mecânicos são dotados preferencialmente de esteiras ou correias que fazem a captura física do óleo, enquanto os sistemas de sucção funcionam com equipamentos de sucção a vácuo diretamente sobre o produto vazado.
Os recolhedores não oleofílicos tem aplicação em diversas situações e servem a trabalhos de remoção dos mais diferentes tipos de óleo, do mais leve ao mais pesado, sempre a depender da escolha correta do tipo de equipamento adequado para a remoção do produto desejado. A figura abaixo mostra alguns tipos de recolhedores não oleofílicos comumente encontrados no mercado.
A tabela abaixo (adaptada de ITOPF, 2014) procura sintetizar os principais tipos de recolhedores, suas aplicações e limitações de uso.
Atualmente o mercado busca soluções completas, que possam resolver situações de forma rápida e confiável. Nesse sentido, foram concebidos sistemas recolhedores que podem executar simultaneamente a contenção do óleo e o seu recolhimento. Esses sistemas são acoplados a embarcações e têm funcionamento autônomo. Funcionam como um braço estabilizado acoplado no bordo de embarcações para confinar o óleo, enquanto outro sistema efetua seu recolhimento, geralmente composto por um skimmer de escova, seguido da transferência do produto para um tanque de armazenamento.
Além do recolhimento e transferência do produto derramado, uma das preocupações é com o seu armazenamento. Em operações oceânicas, os recolhedores possuem elevadas taxas de recolhimento, superando 300 m3/hora. Esse volume de água oleosa necessita de condições adequadas de armazenamento. Apenas embarcações dedicadas às operações de resposta possuem tanques específicos para lidar com tais volumes. Para suprir essa carência, podem ser utilizados tanques de armazenamento temporário, rebocáveis ou estacionários, ou adaptações nas embarcações engajadas na resposta. Nesse ponto, a tendência do mercado mundial é a utilização dos denominados Fast OSRV (Fast Oil Spill Recovery Vessel), embarcações autossuficientes de menor porte, maior velocidade de cruzeiro, utilizando barreiras curtas apoiadas por braços de sustentação e recolhedor oleofílico acoplado, o que permite grande versatilidade operacional e menor volume de resíduo gerado.
De acordo com a Nova Política de Resíduos Sólidos – Lei № 12.305/2010, deve-se efetuar a destinação final ambientalmente adequada dos resíduos gerados. Nesse sentido, os resíduos oleosos coletados nas emergências envolvendo o lançamento acidental de óleo devem ser direcionados para a recuperação mediante reprocessamento e rerrefino. De forma complementar, a presença de resíduos sólidos contaminados e a borra oleosa resultante do processo de rerrefino podem ser utilizados na produção de briquetes com alto poder calorífico, que podem ser utilizados em caldeiras ou fornos de alta temperatura, minimizando a disposição desses resíduos em aterros.

OS AUTORES
Dante Pozzi Neto atua há mais de 30 anos na área ambiental, é mestre em Ciência Ambiental pela USP e diretor operacional da Alpina Briggs Defesa Ambiental, é especializado no gerenciamento de derramamento de óleo e avaliação de impactos ambientais, com participação em dezenas de projetos de âmbito nacional e internacional.
Osvaldo Henrique Nogueira Junior é geógrafo, com MBA em Gestão e Tecnologias Ambientais pela Escola Politécnica da USP, capacitado como IMO On-Scene

Commander, acreditado pelo The Nautical Institute e membro da ISCO – International Spill Control Organization, com 20 anos de experiência nas áreas de meio ambiente e contingência. Desde 2002 faz parte da equipe de especialistas da Alpina Briggs Defesa Ambiental atuando diretamente na elaboração de Planos de Emergência Individuais, Planos de Contingência, Estratégias Iniciais de Resposta e Estudos Ambientais.
Roberto Giannini é oceanógrafo, graduado pela Universidade do Rio Grande, mestre e doutor pela Universidade de São Paulo. Conta com mais de 30 anos de atuação na área de meio ambiente, como instrutor e consultor nos meios acadêmico e empresarial.

Participou de muitos projetos de diagnóstico, monitoramento e impactos ambientais, com ênfase nas atividades petrolífera e de saneamento. Desde 2002 trabalha na Alpina Briggs Defesa Ambiental, exercendo atualmente o cargo de Gerente de QSMS.
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